Nascera forte... Seria? Forte não tinha a certeza, mas envolta numa espessa estabilidade, sim, de certeza – protegida por ela, que lhe ia filtrando a realidade envolvente. Bendito que era esse manto protector, que foi sendo corroído de modo voraz pela impiedosa crueldade humana.
E eis que, subitamente desabrigada, a Criatura que nunca necessitara de se aprender a defender, se viu exposta, a assistir num indefeso desespero ao ruir do estável mundo em que até então vivera... Ferida até ao fundo do seu ser, sem certezas a que se agarrar em queda vertiginosa no abismo da incerteza...; foi aí que começou a ver... e a entender....
E teve de escolher... esse momento inevitável chegou. E escolheu a Realidade – vê-la como é – Entendê-la pelo que é, nem que por um ponto de vista que não seu; escolheu olhar para a Verdade. VIU o que até então não vira... SENTIU... ENTENDEU... O que ainda restava de antigas certezas vacilou ainda mais...
Mas este entendimento, essa compreensão iam-lhe sugando toda a energia... a sua própria pele foi posta em xeque...
Nunca ninguém lhe tinha dito que a verdade pode queimar...
Nunca a tinham avisado de que quando Olhasse veria a luz de mão bem dada com a escuridão.
